segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Noel: O cara dos Trompetes!




Por Bernardo Araújo, Jornal O Globo

Na primeira vez em que o Oasis veio ao Brasil, em 1998, o guitarrista Noel Gallagher – aquele que tinha dito, anos antes, que só aceitaria entrar na banda do irmão mais novo, Liam, se as músicas tocadas fossem exclusivamente as dele – participou de uma entrevista coletiva, ao lado do baixista Paul McGuigan. Antenado com as histórias da lendária implicância entre os irmãos, um jornalista perguntou:

- As brigas com Liam são de verdade ou isso é marketing?

Noel, claro, não titubeou:
- É marketing.

Processo arquivado

Com o sarcasmo de sempre, o autor de músicas como “Wonderwall” e “Don’t look back in anger” dava a entender que a relação entre os dois, embora funcionasse bem musicalmente, de fato não era muito amistosa no campo pessoal. As brigas levaram à saída de Noel do Oasis, em 2009 (o que decretou o fim da banda), e recentemente foram parar na Justiça: Liam iniciou um processo contra o irmão por este ter dito que a banda cancelou sua performance no V Festival de 2009, na Inglaterra, porque o caçula estaria de ressaca – a causa oficial foi uma laringite. Noel pediu desculpas em um chat com fãs na internet, e o processo acabou abandonado.

- É melhor eu não falar nisso – diz o Gallagher mais velho, por telefone, de Los Angeles, onde finaliza seu primeiro disco pós-Oasis, “Noel Gallagher’s High Flying Birds”. – Ele ainda pode me processar, ou a você, dependendo do que escrever.

A voz calma e o bom humor não escondem o tradicional veneno, embora Noel pareça querer falar mais de seu disco do que de antigos problemas. Em músicas como “The death of you and me”, já disponível na internet, ele mostra bom alcance vocal – já cantava algumas músicas no Oasis e agora é vocalista em tempo integral – e uma levada menos roqueira do que a da antiga banda.

- Minha extensão vocal é maior do que a de Liam – diz, casualmente. – Ele é ótimo nesse negócio de rock, e a minha voz não é a certa para isso. Então, gravei as músicas mais apropriadas a um cantor como eu, que são… não sei, não muito rock.
Ele concorda que o público pode se surpreender com os violões e as melodias com tempero folk (a menção a Cat Stevens surpreende e agrada a Noel: “Sabe que ninguém jamais me disse isso?”).

- As pessoas estão acostumadas a me ver tocando guitarra em uma banda de beatlemaníacos que se apresentava em grandes estádios – lembra ele. – Para o Oasis, eu fazia músicas que se encaixassem naquele formato. Tinha que ser rock. Mas sempre compus outros tipos de canções, como as que estão em meu disco. Entendo que se surpreendam, mas para mim é absolutamente normal.
Um cheiro de Noel solo já foi apresentado em shows dele na Inglaterra, em 2006, tocando violão, com outro ex-Oasis, o guitarrista Gem Archer, e mais músicos – há uma performance em http://bit.ly/kzadoo



- Não saí um milímetro da minha zona de conforto, estou totalmente imerso nela – garante ele. – Fico muito feliz tocando violão, não faço mais solos, chega dessa merda de glamour.

Ele também garante que ser cantor não é problema:
- Gosto muito de cantar, acho fácil, não é um grande esforço. E nem tomo muitos cuidados com a garganta: ainda fumo, grito nos jogos de futebol e beijo a minha mulher.

Pode ser que esse panorama mude, já que ele pretende ficar um bom tempo na estrada depois que o disco for lançado, em outubro.
- Minha ideia é viajar por uns dez meses; tudo depende do sucesso do disco, é claro – analisa ele. – Na verdade, resolvi gravar depois que, com o fim do Oasis, passei quase um ano em casa, e minha mulher não me aguentava mais. É engraçado, né? Elas reclamam que a gente não para em casa e, quando estamos lá, querem nos ver longe. Então, para o bem da minha carreira e do meu casamento, pretendo fazer uma longa turnê.

Os shows começam no Reino Unido, com apresentações – cujos ingressos já estão esgotados – em Dublin, na Irlanda, dia 23 de outubro, e depois em Edimburgo, na Escócia, e em Londres, na Inglaterra. De lá, Noel e sua banda seguem para a América do Norte, primeiro o Canadá, depois os EUA. Ele não fala abertamente, mas a conquista do Tio Sam parece estar na agenda, a começar pelas gravações de boa parte de “Noel Gallagher’s High Flying Birds” em LA.

- São várias razões – explica ele. – Primeiro, é muito mais barato gravar e finalizar um disco aqui; depois, é onde vive o meu produtor, David Sardy (um americano que já trabalhou com o Oasis e mais dezenas de artistas, da Spice Girl Mel C a Marilyn Manson), que prefere trabalhar em seu próprio estúdio; e LA é uma maravilhosa cidade rock’n'roll.



‘Um cara com trompetes’

Apesar de conhecido por confiar no próprio taco, Noel diz que não tem a menor ideia da recepção que terá o disco (o single “The death of you and me” foi muito bem nas paradas inglesas), e se ela permitirá a ele realizar o sonho da turnê própria:
- Não sei como são as paradas nos EUA ou no Brasil, mas na Inglaterra elas são loucas – define ele. – Os artistas lá não gravam discos, só singles. Então, no meio de toda aquela música pop moderna, sem a menor preocupação de ter um conceito, um conjunto de músicas, está um cara de 45 anos (ele na verdade tem 44) com trompetes. Parece um pouco ridículo, não?

Os sopros, aliás, que ele diz admirar em músicas de grupos como os Beatles, os Kinks e The Jam, devem estar na banda para os shows:
- Se tudo correr bem, seremos oito no palco, em casas de mil ou 2 mil lugares, e chegaremos à América do Sul em 2012.

E um certo papo de que ele pensava em reunir o Oasis em 2015 para festejar os 20 anos do clássico disco “(What’s the story) morning glory?”?
- Não vai acontecer.

Ué, mas na outra vez em que deixou a banda, em 2001, ele acabou voltando…
- Eu não tinha nada melhor para fazer.

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